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1173km + 18 dias + 3 Sujeitos + Costa Portuguesa = A Aventura


1173 km pela costa portuguesa - uma aventura cicloturista do Porto a Vila Vila Real de S. António.



18 dias, 1173 km, dezenas de paisagens de cortar a respiração, milhares de fotografias e encontros com pessoas incríveis. Um país único e diverso. Foi assim que Alexandre Teles, Levi Arrepia e Ricardo Cruz viveram a sua aventura de cicloturismo, em agosto de 2013. Num relato na primeira pessoa, Ricardo Cruz partilha com a iNBiCLA algumas das memórias desse passeio, ao longo do recorte marítimo de Portugal.


Ferry em S. Jacinto.
Dia 13 de agosto. De manhã, bem cedo, encontrei-me com o Levi, depois de uma noite mal dormida: fazer a lista do equipamento, arrumá-lo nos alforges, preparar a bicicleta com uma revisão rápida, são procedimentos importantes e que aumentam o nervosismo que é próprio da véspera de uma grande viagem. Criam-se expetativas, imaginam-se as paisagens que se vão ver. 

Eram 8h30 quando os três viajantes se encontraram na ciclovia marginal de Gaia. Foi num ambiente descontraído e calmo que se circulou pela orla marítima, até à Figueira da Foz, passando por algumas ciclovias bem atraentes, e, também, por S. Jacinto, aproveitando a travessia pelo ferry.

Na passagem pela ria de Aveiro encontrámos outros cicloturistas. Uma família que ia passar uns dias na Figueira da Foz. O mesmo aconteceu em Sintra e ainda em Peniche. Famílias inteiras a viajar de bicicleta. Ao longo do percurso fui atualizando o meu perfil no Facebook, tal como o Levi, por forma a que quem quisesse fosse acompanhando a viagem. 

Elevador em Nazaré.
A Nazaré revelou-se um dos muitos pontos altos da viagem. Almoçou-se em casa dos avós do Alexandre, cuja simpatia e hospitalidade me deixou rendido. Depois, montámos as tendas no parque de campismo e fomos jantar. 

Visitei esta belíssima cidade durante o serão e ainda na manhã do dia seguinte, fazendo uma passagem pelo Forte de S. Miguel, um excelente miradouro para as ondas gigantescas que o canhão da Nazaré provoca. Conheci as típicas ruas da cidade, subi ao Sítio, já de noite, utilizando o elevador - agora bastante moderno - com as bicicletas no gigantesco rack à frente. 



Prossegui nesse dia até S. Martinho do Porto e Foz do Arelho, com direito a banho na Lagoa de Óbidos, sempre com a preocupação de manter o mural do Facebook atualizado. Havia muitos amigos on-line a seguir com interesse a viagem. 

   
A passagem pela Foz do Arelho, com uma vista magnífica.
Em Óbidos, no acesso pelas traseiras do castelo.

A  entrada em Óbidos foi curiosa. Habituado a ver o branco do casario da autoestrada A8, vi ao longe as ameias e torreões de um castelo que não conseguia localizar. Só muito perto me apercebi que estava a chegar pela Estrada da Cerca e a entrar pelas traseiras da cidade, que se espraia para o outro lado, para sul, nas suas ruas características. Seguiu-se Peniche, sempre muito ventosa e, descendo ao longo da N247, fomos até à Ericeira, encontrando, pelo caminho, algumas praias e paisagens incríveis.


A norte da Ericeira, a orla costeira apresentava-se com esta paisagem magnífica.

A descida pela N247 levou-me ao encontro de uma terra encantadora: Odrinhas, com um magnífico museu arqueológico, cuja visita se recomenda, quanto mais não seja para observar dois túmulos etruscos únicos na península ibérica. 

Em Seteais, Sintra.
A chegada a Sintra, por bicicleta, acentuou o ambiente romântico e mesmo místico da vila que não quer ser cidade. Palácio de Seteais, Quinta da Regaleira, Castelo dos Mouros, Palácio da Pena e Mosteiro dos Capuchos. Todos foram visitados de bicicleta. 

O trecho da Estrada da Serra de Sintra foi de uma beleza assinalável e, ao deparar-me com a vista até ao Guincho e o mar, azul forte, ao
fundo, apercebi-me da beleza indescritível deste lugar, sempre surpreendente, em cada visita. 

Em Cascais, o Alexandre deixou de acompanhar a descida até sul, devido a uma
ligeira lesão no joelho. Nestas coisas mais vale prevenir...


À saída do ferry, no Barreiro.
Mas ainda nos acompanhou até mais uma experiência memorável. Nesta viagem percebi que, quando os planos são preparados apenas no essencial, tudo o que surgir de imprevisto tem um sabor muito mais intenso. Foi por um acaso controlado que os pais do Alexandre se juntaram ao grupo de cicloturistas, na sua autocaravana, e, com eles, cheguei a Lisboa. Depois de um magnífico jantar, demonstrou-se a velocidade e agilidade da bicicleta em contexto urbano. Estávamos estacionados em Santos e em 12 minutos pusemos-nos no Terreiro do Paço para ver o espetáculo de multimédia de inauguração do miradouro do Arco da rua Augusta. Haveria de voltar a este miradouro, no regresso. A dormida em Monsanto não foi muito interessante. Depois de se pernoitar em alguns parques, adquire-se algum conhecimento de causa e um certo sentido crítico. 

No dia seguinte, um domingo, a descida até Belém foi premiada com os famosos pastéis e o render da guarda junto ao palácio de Belém - um espetáculo sempre interessante. Veio ao meu encontro o Gonçalo Peres, que conhecia virtualmente do grupo do Facebook Ciclismo Urbano em Portugal e o Luís Frias, também desse grupo e de outro contexto académico. Foram incansáveis na sua simpatia. Almoçamos com eles, tendo-se juntado o João Santos, também das redes sociais. Foi interessante constatar o interesse que a nossa aventura estava a despertar e a vontade das pessoas em estar connosco.


As praias da costa alentejana.
Segui até ao Barreiro, para subir a serra da Arrábida e ir dormir em Tróia, com a ajuda generosa do Gonçalo Peres, que ofereceu o seu apartamento, o que permitiu descansar nessa magnífica península, antes de prosseguir para sul. Na Lagoa de Santo André pude usufruir de uma temperatura ambiente muito agradável e da sua água épida. Com o Levi, decidimos pernoitar na praia, apenas com os sacos-cama. Os vários banhos na lagoa nunca foram demais. Foi uma oportunidade única de observar o luar e o nascer do dia. No dia seguinte, foi continuar. Sempre para sul. Passando por Sines e depois São Torpes, onde outro cicloturista subia de regresso a Coimbra. Foram vários os que se podiam encontrar ao longo da viagem. Depois, foi passar pela mítica costa alentejana... Porto Covo, Vila Nova de Mil Fontes, a Ilha do Pessegueiro... foram praias e paisagens únicas cuja beleza se acentuou pela possibilidade de as apreciar à velocidade de uma revolução lenta do pedaleiro. Assim se chegou ao Carvalhal, com a sua magnífica praia, onde se dormiu duas noites. 


O Armando Lopes e a familia.  
Graças ao Facebook, o Armando Lopes veio ao nosso encontro e fez-nos uma visita guiada pelas mais belas praias da zona. Explicou- nos que há um caminho de pescadores que se pode fazer ao longo da costa e que é muito interessante por ser muito próximo das arribas e das praias. Foi assim que se visitaram a Azenha do Mar e outras praias nas vizinhanças, tendo tido a felicidade de poder contemplar a paisagem com uma luz serena, o que permitiu realizar um registo fotográfico muito bom. 

Assim se prosseguiu, no dia seguinte, em direção ao Algarve. Passagem obrigatória pela praia do Vale dos Homens, já no Algarve. Depois, Lagos, com a sua marina, os gelados artesanais, o ambiente cosmopolita de férias. Mais à frente, Portimão.


O Ricardo, Tiago e LEvi, no Alvor.
O Alvor, em que o Tiago Rosado, com a sua simpatia nos ofereceu o apartamento para uma noite mais descansada. As praias nunca mais nos abandonaram: praia do Vau; praia da Rocha; praia de Nossa Senhora da Rocha. Albufeira, com as suas gentes simpáticas, que nos indicaram um magnífico restaurante para se jantar. Vila Moura, com o sistema de aluguer de bicicletas, tão surpreendente pela modernidade que imprime. Vale do Lobo e Quinta do Lago, com as suas vivendas e praias de águas cada vez mais tépidas. Depois a ilha de Faro. A ria Formosa com toda a sua beleza. Houve até tempo para fotografar bem de perto as aterragens e descolagens dos aviões do aeroporto de Faro. 


A Euro Velo 1, entre Faro e Tavira.

Daí, seguiu-se para Tavira, através da Euro Velo 1, a via ciclável trans-europeia em construção, que se prevê que vá desde Sagres a Bergen, na Escandinávia, passando pela costa ocidental de França, Irlanda, Irlanda do Norte, Escócia, e Noruega. Finalmente, a ilha de Tavira, onde numa tarde se avistaram golfinhos e onde a vontade de demorar foi grande, pelo que se aproveitou a praia durante três dias. 

No ferry a caminho da ilha de Tavira.

De Tavira até à praia da Manta Rota foi num instante. Ainda deu para escapar a uma trovoada de Verão, que passou a norte do percurso. Depois, foi a oportunidade de usufruir do sol da zona mais a leste do sotavento algarvio. Dormida em Monte Gordo e, no dia seguinte, partida para Vila Real de Santo António.

Daqui, o regresso fez-se até Lisboa, onde visitei alguns espaços emblemáticos do ciclismo urbano da capital e participei na massa crítica de agosto.  

Mais uma vez a companhia de alguns ciclistas urbanos da capital foi espetacular pela forma como nos receberam e acompanharam.O António Cruz deu-nos panfletos do Lisbon Bicycle Film Festival, e o Luís Frias e o outro António Pedro Cruz receberam-nos na massa crítica, acompanhando-nos no jantar e depois pela noite dentro, algures pelo Bairro Alto.

MC em Lisboa
No elevador da Glória, com o António
e o Luís, os anfitriões da cidade.










No dia da partida para o Porto, ainda foi possível visitar o miradouro do Arco da rua Augusta e apreciar uma perspetiva diferente da cidade. Para o Porto, seguimos de camioneta, com as bicicletas no porão, tal como tínhamos feito de Vila Real de Santo António até Lisboa.



À chegada, o Jacinto e o Rodrigo vieram-nos receber, o que nos deixou muito sensibilizados. Depois de organizadas as fotografias, realizar-se-á uma apresentação para os amigos mais chegados. Como o registo foi feito com smartphones e foi possível registar a informação de geolocalização das fotografias, o mapa completo do local onde foram tiradas resultou num mapa muito curioso.


Muito obrigado pela partilha Ricardo.


Álbum de fotos.